Brasil na Copa do Mundo de 2006 : Um paralelo com o Ambiente de Negócios e o Mundo Corporativo das Empresas
O texto a seguir, aborda o seguinte tema : As reflexões após o desempenho do Brasil na Copa do Mundo de 2006 e um paralelo dos acontecimentos com a realidade que vemos no ambiente de negócios e o mundo corporativo das empresas
Mesmo para quem não é fanático por futebol, é impossível não se deixar empolgar por esta verdadeira paixão nacional, que é a participação da seleção brasileira na Copa do Mundo. Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção nacional na Copa do Mundo de 2006 e um consagrado palestrante de management, afirmou na edição da Expo Management 2005 em São Paulo, que “o futebol é o Brasil que deu certo”.
Com base no resultado obtido pela seleção brasileira na última edição da Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, podemos afirmar que a afirmação é no mínimo, contundente.
A afirmação têm certo sentido, uma vez que o futebol não é um esporte caro e está disponível para a grande maioria da população, independente do poder aquisitivo. Face a difícil realidade que ronda boa parte da população brasileira, o futebol é visto como uma forma de ascensão social pelas camadas mais baixas da população. Clodoaldo Gonçalves Leme, mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP e autor da dissertação intitulada “É Gol! Deus é 10 – A Religiosidade no Futebol Profissional Paulista e a Sociedade de Risco”, afirma que “Futebol é uma forma de ascensão social no Brasil. Se não der certo a vida no futebol, ele volta à sociedade de risco de onde veio.”
Claro que, os mais abastados podem bancar uma chuteira de marca famosa ( dotadas de tecnologias para melhorar o centro da gravidade, facilitar as arrancadas, entre outras que estiveram presente nos calçados dos jogadores na Copa do Mundo ), todavia o futebol é um esporte onde, o material usado na sua prática pode vir a potencializar um talento, mas nunca garantir o talento.
Por outro lado, se conforme Parreira, “o futebol é o Brasil que deu certo”, por que não deu certo ?. O futebol assim como nos negócios, é um esporte onde nem sempre o melhor consegue ser mais eficiente, todavia o mundo corporativo têm lições importantes a ensinar sobre “O Brasil que não deu certo” na Copa de 2006 :
1) Visão e Valores : Para qualquer empreendimento, é necessário uma visão da posição para qual se quer chegar e saber os valores que se consideram como importantes. John Kotter, professor de Liderança na Harvard Business School e titular da cadeira Konosuke Matsushita, afirma que quando as idéias representam a nossa visão e os nossos valores e temos um forte compromisso emocional com elas, isto representa a verdadeira coragem. Nesta linha de pensamento, os valores não estavam bem definidos. O que era realmente mais importante para este grupo ? Ganhar a copa do mundo e demonstrar o seu verdadeiro amor a pátria, o orgulho de ser brasileiro , de pertencer a uma nação ? Ou colocar um título no currículo e lucrar financeiramente em razão da conquista ?.
Será que o grupo estava se sentindo como uma “Alice” diante do “Gato de Chesire” na fábula “Alice no País das Maravilhas” quando Alice lhe perguntou o caminho para sair dali e lhe disse que não importava muito onde queria sair, no que o Gato lhe respondeu “Então não importa o caminho que você escolha” ?
2) Liderança : Independente dos talentos excepcionais que tinha a disposição, Parreira não soube liderar seus comandados, pois confiava demais nas virtudes individuais de seus comandados. No mundo corporativo, espera-se do líder, a capacidade de contagiar a equipe, de forma que cada um dentro da equipe, saiba o verdadeiro sentido da missão.
Faltou a verdadeira coragem para o líder cobrar raça e empenho dos jogadores nos treinos e nos jogos, corrigir detalhes de posicionamento, assumir o papel de líder ( e de todos os sacríficios que esta posição demanda ) nos momentos difíceis.
Provavelmente pela falta de pulso do treinador, dentro do campo embora houvesse a figura do “capitão do time”, não houve um jogador com voz de comando, tal como Dunga na Copa de 1994 que cobrasse e mantivesse os jogadores “acesos” durante toda a partida.
3) Missão : Se o sentido da missão não está claro para todos os membros do grupo, torna-se difícil cobrar dos colaboradores, o “amor a camisa”, afinal se não sabemos a missão, como vamos saber o papel de cada um dentro da equipe?. Os objetivos pessoais acabam sobrepondo-se aos objetivos comuns do grupo, porque afinal ninguem sabe o objetivo do grupo.
4) Preparação : Rudolph Giuliani , prefeito de Nova York á época dos atentados de 11 de Setembro de 2001, afirma em suas palestras que aprendeu quando era promotor público, a importância da preparação, quando um juiz lhe afirmou que obtinha sucesso na corte porque para cada hora no tribunal, passava outras quatro horas se preparando. Antes da Copa do Mundo, como preparação para o campeonato ( e opção de Parreira) enfrentou apenas a Nova Zelândia (118ª colocada no ranking da Fifa ) ao passo que a França enfrentou no mesmo periodo equipes fortes como o México ( 4º no ranking ) e Dinamarca ( 11ª colocada ).
“É uma opção planejada, enquanto os outros estão jogando, nós estamos treinando” dizia Parreira. No final, incluiu a falta de jogos no rol das razões da derrota.
Os treinos eram animados bate-bolas em metade do campo, com os jogadores fora das posições habituais. “Esses treinos reforçam os fundamentos do futebol, atacar e defender”. Em campo, viu se jogadores totalmente desentrosados.
5) Espírito de equipe : Durante as folgas, os jogadores se isolavam nos seus quartos. Falavam pelos celulares o dia inteiro com mulheres, namoradas e amigos, se reunindo apenas nos treinos, ônibus, batucadas e sessões de leituras da Bíblia. Em uma equipe, é importante que as setas estejam alinhadas em uma direção e os membros se conheçam para que saibam detectar as fraquezas de cada um, e de que forma complementar com a competência alheia. Em uma equipe, todo mundo tem um papel diferente e ninguém é completo e auto-suficiente, desta forma é importante a complementaridade.
6) Paixão pelo sucesso : Em qualquer empreendimento, é necessário uma busca incessante pelo sucesso e garra do começo ao fim. A meta têm que estar presente no subconsciente de cada um, para que não seja necessário um agente externo para trazer este objetivo, no estado de consciência do indivíduo. O que se viu nos jogos foi uma tremenda apatia, como se a responsabilidade pelo resultado fosse sempre alheia e nunca parte das atribuições do “eu” invididual em prol do grupo.
Marcelino Hiroshi Kawamura é aluno do curso de MBA em Gestão Estratégica de Negócios na Universidade de Sorocaba (UNISO). Atualmente é responsável pela área de Tecnologia de Informação da Kyocera Yashica do Brasil
Referências bibliográficas
• Revista HSM Management. São Paulo: HSM do Brasil, n.52, Set/Out-2005.
• JANINI, Clarissa. ExpoManagement : o que o mundo corporativo tem a dizer”. São Paulo, 21 de Novembro de 2005. Disponível em : <
http://carreiras.empregos.com.br/carreira/administracao/noticias/ 211105-expomanagement.shtm >
• Religião e futebol são válvulas de escape em sociedades de risco. 18 de Novembro de 2005. Disponível em < http://www.labjor.unicamp.br/midiaciencia/article.php3?id_article=87>
(Disponível em: http://www.artigos.com/artigos/sociais/administracao/recursos-humanos/brasil-na-copa-do-mundo-de-2006-:-um-paralelo-com-o-ambiente-de-negocios-e-o-mundo-corporativo-das-empresas-464/artigo/ Acesso em 12 de setembro de 2009)